Aula Inaugural da Especialização de Gestão da Inovação em Fitomedicamentos discute o caminho tecnológico até os novos paradigmas, sustentabilidade e biodiversidade
Viviane Oliveira / Maritiza Neves
Na programação, os professores, alunos e o NGBS se apresentaram
Entrelaçando as áreas de gestão, inovação, fitomedicamentos e biodiversidade, o Coordenador Científico do curso de Especialização de Gestão da Inovação em Fitomedicamentos, Glauco Villas Bôas, proferiu a Aula Inaugural para alunos, professores e convidados da unidade, com o tema “A inovação em medicamentos da biodiversidade a partir de um novo paradigma”. No encontro, ele apresentou uma trajetória da ciência e da tecnologia no país e no mundo, com citações de teóricos, mudanças, complexidades, relações com a política, economia e os novos paradigmas.
Villas Bôas comentou sobre a troca entre professores e alunos de diversas áreas no curso. “Começamos um momento de intensas trocas, em um ambiente participativo, para pensar, exercitar um pouco da interpretação e organizar o pensamento, para construção da inovação a partir da biodiversidade”, explicou. Ele ainda falou sobre a interdisciplinaridade da especialização. “O curso cada vez mais deixa de ser uma colcha de retalhos, para ser uma construção de diversos pontos de vista, no caminho do futuro gestor. É importante que no mundo de hoje, ele esteja habilitado a participar da discussão de qualquer problema de gestão ou inovação, não só de fitomedicamentos, como também de medicamentos da biodiversidade”, frisou o coordenador.
Suzete da Silva Zanon, psicóloga, tem aperfeiçoamento na área de clínica hospitalar com ênfase em infectologia, e ingressou na turma. “Minha expectativa é grande. Estou muito curiosa. Sou adepta a utilização de coisas naturais. Na área da gestão, a questão maior para agregar valor à minha disciplina, para saber qual ação, eu como psicóloga, posso fazer nessa área de atuação. Como é novo, isso me causa uma grande euforia para saber o que vai acontecer”, declarou.
Para introduzir o assunto, Villas Bôas comentou sobre a mudança tecnológica, com crescimento contínuo da pesquisa e da ciência na Segunda Guerra Mundial, passou pelo neoliberalismo americano e ainda destacou as regras básicas para pesquisa e desenvolvimento (P&D), através do Manual Frascati, que faz uma medição de atividades científicas e tecnológicas.
Para ele, a cooperação econômica passou a dar diretrizes para as políticas de ciência e tecnologia, para sustentar o desenvolvimento. E então surgiu a pergunta “Ciência para política ou política para ciência”?
Entre comparativos de perspectivas econômicas e políticas, ele falou ainda da inovação como um motor do desenvolvimento, trazendo a novidade e destruindo o processo anterior. Ressaltou também o paradigma científico como um modelo de pesquisa, que vem a partir do desenvolvimento da ciência em algumas áreas.
Marcelo Ferreira, Carla Curi e Suzete Zanon fazem parte da nova turma da especialização e falaram de suas motivações e expectativas
Marcelo Neves Ferreira, enfermeiro, comparou o estudo à prática no trabalho. “O que me trouxe a este curso foi conhecer pessoas que já fizeram, gostaram e me indicaram. O que me despertou a vontade de estudar foi ter utilizado uma tecnologia de uso de extrato de calêndula sobre um machucado, quando eu era enfermeiro na clínica da família, e ter visto uma resposta muito boa. Daí surgiu a vontade de colher mais conhecimentos relacionados a fitoterápicos”, contou o aluno.
O coordenador salientou que o curso tem foco na inovação a partir da biodiversidade e explicou sobre o termo, que nasceu na Escola da Biologia da Conservação. Para ele, a biodiversidade não é só no sentido de preservação, mas de interação da diversidade biológica com o mundo real. Ele citou o autor Schwatzman, que fala sobre a evolução da ciência e tecnologia no Brasil.
Ao falar sobre biodiversidade, Villa Bôas definiu o que são medicamentos da biodiversidade e falou sobre o futuro. “É todo aquele que se origina na biodiversidade ecossistêmica, de espécies e diversidade genética. Considerando que o Brasil tem a maior diversidade do mundo, muda a estatística e aponta um caminho para um programa de desenvolvimento técnico-científico-industrial para o Brasil e o mundo”, alertou. Segundo ele, 60% dos medicamentos usados no mundo são da biodiversidade, de origem vegetal ou animal.
Para o coordenador, ainda não é conhecido nem 10% da diversidade existente em cada bioma dos seis existentes no país. E é de suma importância ter a concepção de fazer este trabalho em redes. “Os acadêmicos se juntam e passam informações em redes. A cooperação tem que ser resgatada, pois há muita coisa a ser feita para alavancar a base da ciência nas universidades, nos institutos de tecnologia, no conhecimento popular e no conhecimento tradicional. Isso é uma rede do conhecimento e ele deve ser estruturado em cada bioma”, finalizou.
Carla Nastare Curi, farmacêutica, responsável técnica pela clínica da família José de Paula Lopes Ponte, falou sobre a motivação principal. “Comecei a desenvolver um projeto na minha unidade de plantas medicinais e, a partir daí, quis começar a estudar mais. Primeiro, busquei um curso de cultivo e quando você abre uma porta para o conhecimento, você quer sempre mais. Então, vim buscar mais conhecimento aqui, neste curso. Minha expectativa é poder trocar bastante informações com os outros alunos e conhecer os meios para conseguir desenvolver os meus projetos”, revelou Carla.
Ao longo do dia, a Coordenadora do curso, Regina Nacif, fez uma apresentação dos professores, dos alunos, da equipe de ensino e do Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS). Ela também mostrou as bases teóricas com que o NGBS trabalha e que, consequentemente migram para o curso. Segundo ela, esta apresentação se fez necessária devido à dificuldade que algumas pessoas têm de perceber qual o papel do curso nas ações do núcleo. Também foi conversado sobre a organização curricular do curso e as normas de funcionamento entregues para alunos e professores.
Comunidade Virtual de Aprendizagem – Essa é uma comunidade de interação entre professores e alunos. Neste local, ficam guardadas as ementas, as disciplinas e as notícias de interesse do curso. Mas, não é só isso. Professores e alunos deverão circular bastante dentro desta comunidade. “A gente quer incentivar o professor a usar mais o espaço de fórum para discutir as questões que surgem na sala de aula. Também queremos estimular o professor a colocar todas as tarefas na comunidade e, por sua vez, o aluno terá que responder por ali, também, para que a comunidade possa, enfim, exercer o papel dela. Este tipo de ação, propiciará um melhor controle das atividades que já foram ou estão sendo lançadas”, contou Regina.
Anteriormente, devido a questões tecnológicas, tanto o aluno quanto o professor encontravam dificuldades para acessar a comunidade fazendo com que eles migrassem para o e-mail. “Queremos modificar esse fluxo. Continuaremos a utilizar a plataforma Moodle tendo o suporte do ensino à distância da Escola Nacional de Saúde Pública (EAD-Ensp). Porém, com um foco mais direcionado aos problemas encontrados pelos alunos e professores na utilização da plataforma”, disse.
*O Moodle é uma plataforma de aprendizagem a distância baseada em software livre. É um acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (ambiente modular de aprendizagem dinâmica orientada a objetos).
Fotos: Edson Silva