Evento recebeu 234 inscrições e contou com a submissão de 94 trabalhos
(mais…)Autor: Viviane Oliveira (Página 2 de 77)
O Brasil foi o 20° país certificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pela eliminação da filariose linfática como um problema de saúde pública e o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) tem papel fundamental na conquista, como o único fornecedor do medicamento utilizado no tratamento registrado no Brasil. A dietilcarbamazina 50mg foi desenvolvida pelo Instituto e teve o primeiro registro em 1996, sendo distribuída para todo o país por mais de 20 anos, contribuindo com o plano nacional de combate à doença, criado em 1997.
“A eliminação de uma doença é uma conquista importante que exige um compromisso inabalável”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS. “Parabenizo o Brasil por seus esforços para livrar seu povo do flagelo dessa doença dolorosa, deformadora, incapacitante e estigmatizante. Esse é outro exemplo do incrível progresso que temos alcançado contra as doenças tropicais negligenciadas. E dá esperança de que é possível eliminar essa doença a muitas outras nações que ainda enfrentam a filariose linfática”.
A Ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, reforça as estratégias governamentais, realizadas ao longo dos últimos anos e os próximos passos. “Nas últimas décadas, o Brasil adotou uma série de medidas coordenadas para eliminar a filariose linfática, como distribuição em massa de medicamentos antiparasitários, o controle de vetores e uma vigilância rigorosa, especialmente nas áreas mais afetadas. É uma conquista das gerações de sanitaristas e demais profissionais da saúde. Graças a esses esforços, o país conseguiu interromper a transmissão da doença em 2017. Na fase pós-eliminação, a vigilância será mantida para evitar o ressurgimento da doença”, afirma.
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS/MS), Carlos Gadelha, define Farmanguinhos como uma das apostas mais avançadas e estruturantes do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis). “Farmanguinhos, como sempre, honra a Fiocruz, o Estado brasileiro e a sociedade brasileira, ao avançar com pioneirismo no campo das tecnologias e da inovação, que permitem cuidar das pessoas, salvar vidas e construirmos um Brasil soberano, equânime, independente e sustentável. Nós estamos resgatando o papel da produção pública para enfrentar o desafio das doenças negligenciadas. Mais de um bilhão de pessoas no mundo, 500 milhões são crianças, e esse avanço tecnológico, na inovação, na produção de medicamentos para filariose, constitui um marco da nova estratégia, onde o Ministério da Saúde coloca a vida em primeiro lugar”, comenta.
Com a eliminação da doença conhecida popularmente como elefantíase, o Brasil foi o 53° país a eliminar pelo menos uma doença tropical negligenciada em nível global. O diretor de Farmanguinhos/Fiocruz, Jorge Mendonça, comenta a missão institucional e a atuação para o Sistema Único de Saúde (SUS). “A eliminação da filariose é uma grande conquista para o progresso da saúde da população brasileira e um marco histórico para as doenças negligenciadas. Sermos o único fornecedor do medicamento em nível nacional, desde 1996 registrado na Anvisa, e conseguirmos eliminar uma doença negligenciada reforça o protagonismo de Farmanguinhos na produção de medicamentos e soluções integradas para o SUS”. Jorge destaca também como o fornecimento do insumo farmacêutico ativo (IFA) garantiu o abastecimento dos medicamentos. “A produção nacional do IFA da dietilcarbamazina, pela Nortec Química, também contribuiu para a autonomia brasileira de toda a cadeia e a continuidade em massa do tratamento”, explica o diretor.
A eliminação da filariose linfática integra o programa Brasil Saudável, lançado pelo Governo Federal, em fevereiro de 2024, com o intuito de acabar com doenças socialmente determinadas com abordagem interministerial. Além disso, o roteiro sobre doenças negligenciadas 2021-2030 envolve a prevenção, o controle, a eliminação e a erradicação de 20 doenças e grupos de doenças até 2030.
O segundo dia do Seminário Internacional Inovação em Medicamentos da Biodiversidade, realizado pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), abordou assuntos importantes acerca de inovações para a saúde, a partir de plantas medicinais com o uso dos biomas brasileiros, associados à necessidade de ajustes para um novo marco regulatório e nova política.
Para iniciar as conversas do dia, a sessão 3, com o tema tecnologias 4.0 e portal da inovação em medicamentos da biodiversidade, contou com a apresentação do responsável pela agenda da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), José Menezes, para destacar alguns projetos em andamento e já concluídos do órgão social. “Atualmente, temos mais de 200 projetos, todos cooperativos com empresas, às vezes, até 31 instituições dentro do mesmo trabalho, em áreas de agroindústria, alimentos, bebidas e da saúde. Esta área é muito relevante e todo o trabalho do Complexo Econômico e Industrial é fantástico. As empresas farmoquímicas têm que se aproximar da EMBRAPII, porque temos muito potencial de ampliação da inovação, a partir de estratégias e da liderança do Ministério da Saúde”, falou. O palestrante citou exemplos de estudos com insumos a partir de biomassa para o tratamento de câncer, uso de medicamentos fitoterápicos para doenças degenerativas, inclusive um estudo da Fiocruz com plantas para testes de diagnóstico para covid.
O pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e representante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), Luiz Alberto Lira Soares, falou sobre o iCEIS e a inovação a partir da biodiversidade do semiárido brasileiro. “Precisamos descobrir as peculiaridades. O representante do setor produtivo lida de forma diferente com a comunidade tradicional, que tem outro ritmo de vida e trabalho. Muitas vezes gera insucesso por isso, então uma equipe tem levantado essas condições de como essas comunidades se organizam e, verifica, em paralelo, os marcos legais necessários”, afirmou. Luiz Alberto falou, ainda, sobre os estudos acerca da cadeia do umbu, do maracujá da caatinga, pitanga, acerola e com o melão de São Caetano.
Professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais da UNIVASF, Jackson Roberto Almeida, contou como trabalha a bioprospecção no Vale do São Francisco e os projetos de plantas naturais que estão em andamento. “Além de projetos com alimentos e cosméticos, temos pesquisas para a saúde, utilizando maracujá da caatinga e licuri, para chá, cerveja e tratamentos de gripe, tosse, hipertensão e ansiedade. Temos que refletir, pois analisando uma matéria de junho de 2010, vi que o Brasil tinha dificuldade em transformar a flora em medicamentos e que deixava de ganhar U$5 bilhões por ano com fitoterápicos. Muita coisa não mudou e permanece do mesmo jeito”, revelou.
Sessão 4: Novo marco regulatório – a representante do Departamento de Patrimônio Genético, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ana Luiza Assis, apresentou alguns conceitos sobre desenvolvimento tecnológico e acesso ao conhecimento tradicional e ao patrimônio genético, por meio de alguns sistemas, como o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen). “Não usamos todo potencial. Se o Brasil tem verba de 20% da biodiversidade mundial, por que não está se refletindo no fundo? O Brasil não participa do mercado farmacêutico na mesma proporção em que participa da conservação da biodiversidade. E o mercado farmacêutico mundial não reparte os benefícios oriundos da biodiversidade de forma justa e equitativa”, afirmou.
Para comentar sobre a perspectiva da propriedade intelectual na inovação em medicamentos da biodiversidade, a consultora de propriedade intelectual da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina (ABIFINA) e CEO da 2PhD, Ana Cláudia de Oliveira, desmistificou sobre o processo das patentes e propriedade intelectual de produtos que utilizam a biodiversidade. Ana Cláudia falou de garantia de direitos, os estímulos à inovação e ampliação dos tratamentos, com a maior biodiversidade do planeta, a qual teria capacidade de diminuir a dependência externa de insumos.
Sessão 5: uma nova política para inovação em medicamentos da biodiversidade – o coordenador nacional das RedesFitos (CIBS/Farmanguinhos), Jefferson Pereira, conversou sobre os sistemas Ecoprodutivos, citando os desafios, o papel das sociedades locais e a importância da bioprospecção.
Para explicar sobre a bioeconomia e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) como programas transversais de governo, a Diretora de Bioinsumos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Cleila Bosio, comentou sobre os avanços e desafios para a pesquisa e os tratamentos com plantas naturais. “Avançamos muito na inovação e na política, inclusive com vários fitoterápicos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). Já existem formulários informando como prescrever estes medicamentos e editais para farmácias vivas. Houve avanços, mas existem ainda muitos desafios, como investimentos em pesquisa e uma maior conexão com o conhecimento popular”, frisou.
A secretária nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do Ministério do Desenvolvimento Regional, Adriana Mello, apresentou, de forma virtual, o tema da inovação em medicamentos da biodiversidade no desenvolvimento regional. Dando continuidade ao assunto, a pesquisadora de pós-doutorado do Centro SOU Ciência, da Universidade Federal de São Saulo (UNIFESP), Mariana Nunes, correlacionou o tema à interação com o desenvolvimento científico e tecnológico. “A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), o Planejamento Estratégico Institucional (PEI) 2030, o Plano Plurianual (PPA), entre outros documentos, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), estão sendo elaborados neste momento. O programa de biofármacos tem que estar inserido em todos estes documentos da política nacional de ciência e tecnologia”, concluiu.
Para acompanhar o evento na íntegra, acesse o vídeo no canal do YouTube, no link.
Leia também a matéria do primeiro dia do evento: Fiocruz / Farmanguinhos » Desenvolvimento ecológico e bioprospecção são temas do primeiro dia do Seminário Internacional com debate da inovação em medicamentos da biodiversidade, no Rio de Janeiro
O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) iniciou o Seminário Internacional Inovação em Medicamentos da Biodiversidade na Perspectiva Ecológica, que acontece nos dias 12 e 13 de setembro, no Windsor Hotel, no Centro do Rio de Janeiro. O evento acontece de forma híbrida e reúne pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras, representantes de ministérios relacionados com o tema e, ainda, institutos de tecnologia, agências de fomento e de regulação, para apresentar as colaborações na formulação de políticas públicas relacionadas.
Participaram da abertura do evento, a vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Maria de Lourdes Aguiar, o diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça, e o coordenador do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS) de Farmanguinhos e presidente da comissão organizadora do evento, Glauco Villas Bôas. O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, não conseguiu estar presente, devido à agenda institucional, em Brasília. O vice-presidente de Pesquisa e Inovação em Saúde, Marco Krieger, e o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Hermano de Castro, enviaram depoimentos por vídeo.
Jorge Mendonça, destacou a relevância do evento para a produção de novos medicamentos, a partir da biodiversidade brasileira. “A importância da inovação na prospecção de novos medicamentos à base da biodiversidade é fundamental, principalmente, quando aliados ao respeito de conhecimentos tradicionais e vindos de povos originários. Conseguir alinhar esses conceitos à indústria 4.0, baseada em tecnologias e inovações, pode trazer mais dinamismo e maiores possibilidades de avanços para a obtenção de novas tecnologias e, principalmente, para a sustentabilidade que a gente tanto procura na biodiversidade. É trazer técnicas modernas, com modelagem molecular, digitalização e guarda de dados, uso de machine learning, para agregar valor ao conhecimento tradicional e, assim, conseguirmos sustentabilidade no curto, médio e longo prazos”, comentou.
Com um cenário de emergência climática e mudanças paradigmáticas nas Ciências, Glauco Villas Bôas, falou sobre a inovação em um novo paradigma sustentável. “As preocupações com o meio ambiente e um desenvolvimento mais ecológico integram os debates políticos, econômicos, sociais e ambientais. Os conceitos relacionados à inovação em medicamentos da biodiversidade representam uma base sólida para a formulação de uma política que viabilize efetivamente o potencial da biodiversidade brasileira, de forma ecológica, inclusiva, distributiva, participativa e soberana. O seminário traz a proposta de pensar a bioprospecção em uma grande rede, com instituições de pesquisa, indústrias, um portal de informações que sejam distribuídas, de forma gratuita para o Brasil inteiro, coisas que propiciem o avanço nessas políticas (de inovação)”, explica.
Maria de Lourdes Aguiar, comentou sobre a criação de um programa institucional, voltado para a biodiversidade, em consonância com o novo posicionamento do G20. “Há um tempo, temos conversado com o Glauco para a criação de um programa, a partir de uma rede de parceiros, contando com algumas empresas, como a Embrapa. Temos um projeto de cooperação bastante avançado, justamente nessas temáticas que acabam conversando entre si, para um programa institucional, voltado para medicamentos na biodiversidade, abordando desde a pesquisa básica até o desenvolvimento de produtos”, destacou.
Sessão 1: ameaça climática, ciência e desenvolvimento ecológico – para ampliar o debate, com pontos de vista internacionais, o pesquisador do Instituto Missionário da Biodiversidade (IMiBio) e da Universidade Católica de Las Misiones, da Argentina, Erik Ruuth, apresentou abordagens importantes acerca da ciência e do desenvolvimento ecológico, com o olhar medicinal, associando a conectividade do homem com a natureza, que proporciona benefícios diversos, inclusive cognitivos. “Temos que avaliar a maneira como vivemos, pensar em novos usos e mercado para a biodiversidade. Olhar para a natureza, para toda a farmacologia criativa e começar a pensar fora da caixa, para encontrar chances para sobrevivermos. Cooperação e colaboração devem aumentar em todos os níveis, unindo Norte e Sul, com parcerias justas, de forma global”, explicou Erik.
O pesquisador associado da Universidade Goethe e do Centro de Pesquisa do Clima e Biodiversidade, da Alemanha, Spyros Theodoridis, conversou sobre o novo quadro para a pesquisa em recursos naturais medicinais e a mudança global. “Devemos ter o pensamento de utilização da biodiversidade, de maneira sustentável e equitativa, para tentarmos reduzir as ameaças climáticas. Quantificar componentes, que serão motivações para outras pesquisas e que poderão ser usados como indicadores para diferentes direções e soluções para o uso de medicamentos da biodiversidade. É muito importante a abordagem cinegética, colocando o lado humano e a biodiversidade juntos para termos chance de salvarmos o planeta”, falou.
O professor titular da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF/BA) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais da UNIVASF, Jackson Almeida, explicou sobre a importância da biodiversidade para o desenvolvimento de medicamentos, com a apresentação de exemplos de extratos e compostos naturais, inovadores, para estudos específicos para doenças, como a de Chagas.
Sessão 2: bioprospecção, conhecimento e informação da biodiversidade – a Gerente Geral do Biobanco Covid-19 da Fiocruz/Ministério da Saúde, Manuela da Silva, que apresentou o status da repartição de benefícios a partir das sequências genéticas. “Temos que pensar em juntar o setor acadêmico, empresarial, governos, unindo esforços para chegar aonde a gente quer alcançar, para ter capacidade de usar a biodiversidade para o bem da sociedade, unindo esforços para isso.
A representante indígena pelo Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), e Coordenadora da Câmara Setorial das Guardiãs e dos Guardiões da Biodiversidade, Cristiane Pankararu, não pode estar presente no evento e enviou um vídeo, no qual destaca o compartilhamento de saberes e ciências, e analisa os tratamentos de forma individual, com o olhar no paciente.
O diretor do Departamento de Programas Temáticos, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Leandro Bortolozo, citou o papel estratégico de um programa nacional de bioprospecção. Já a professora titular da Universidade Federal do Ceará, Cláudia do Ó Pessoa, conversou sobre a gestão de um programa nacional de bioprospecção. “Os produtos naturais são fonte inesgotável de novas arquiteturas moleculares. A biodiversidade inspira novos fármacos, que impactam na saúde. Precisamos de uma soberania de política nacional de bioprospecção no país, com margo regulatório, sem entraves”, concluiu.
Ao final do dia, os representantes das organizações se reuniram com a equipe do CIBS de Farmanguinhos para conversar sobre possíveis parcerias entre as instituições.
Para conferir o evento na íntegra, acesse o canal do Youtube das Redesfito, no link.
Clique aqui e acesse também a matéria do segundo dia do evento.
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