Farmanguinhos/Fiocruz possui uma área que trabalha na inovação a partir da biodiversidade brasileira

Parte da equipe que compõe o NGBS, área coordenado pelo servidor Glauco de Kruse Villas Bôas – camisa azul ao fundo (Foto: arquivo)

 

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) é um laboratório singular no Brasil: além de cumprir toda a cadeia produtiva de um medicamento, desde a pesquisa básica até a produção, outro diferencial é sua atuação na área de plantas medicinais. Com essa premissa, o NGBS fica com a incumbência de estrear este espaço. Boa leitura.

Viveiro de plantas medicinais da PAF. Todas as mudas são cultivadas neste espaço, localizado na Colônia Juliano Moreira (Foto: arquivo)

O Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) de Farmanguinhos foi criado em 2006 com a proposta de repensar o desenvolvimento de medicamentos a partir da biodiversidade nacional. Mais de dez anos depois, a área cresceu e se estruturou de modo a atuar em diferentes frentes da cadeia de desenvolvimento de pesquisas a partir do uso sustentável dos ecossistemas brasileiros.

 

Atualmente, o NGBS conta com 34 profissionais distribuídos em seis áreas, que, por sua vez, ocupam três campi: Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM), Colônia Juliano Moreira e Hélio Fraga. O Núcleo é composto pela Seção de Assessoria de Gestão; Seção do Conhecimento em Inovação em Medicamentos da Biodiversidade; Seção de Divulgação Científica; Escritório RedesFito; Informação e Comunicação em Rede; e Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos (PAF).

 

Segundo o coordenador Glauco de Kruse Villas Bôas, o NGBS nasceu com a vocação de contribuir para a formulação de políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Nossa missão é atuar para a promoção da inovação em medicamentos da biodiversidade, considerando que medicamentos da biodiversidade são os que se originam da totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de cada região”, frisa.

 

Secagem da arnica, uma planta medicinal que se transformará em produto (Foto: arquivo

Atuação acadêmica – Nesse contexto, o Núcleo fomenta projetos colaborativos, acadêmicos e de prestação de serviços, que viabilizem o desenvolvimento de produtos de forma sustentável. Iniciativas dessa visão de trabalho são os cursos de especialização em Gestão da Inovação em Fitomedicamentos, na modalidade presencial, e o Gestão da Inovação em Medicamentos da Biodiversidade, a distância. Trata-se da primeira pós-graduação lato sensu do Brasil nesse segmento, que, desde 2009, formou 83 gestores no Brasil. “Os cursos preparam gestores para atuarem no gerenciamento de projetos, em qualquer segmento da cadeia produtiva de medicamentos de origem vegetal, a partir de uma visão dinâmica da inovação comprometida com o retorno social e ambiental”, avalia Glauco Villas Bôas.

 

Outra importante conquista foi a criação e consolidação da Revista Fitos, periódico especializado em estudos científicos com plantas medicinais. A publicação, antes impressa e agora eletrônica, publica artigos científicos sobre Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em medicamentos da diversidade vegetal. Ainda no âmbito da divulgação científica, o NGBS criou o Portal das RedesFito e conta com o informativo eletrônico mensal RedesFito em Foco.

 

Da horta para a farmácia – Com um corpo técnico altamente especializado, o Núcleo busca na natureza respostas para diversas doenças. No que se refere à prestação de serviços tecnológicos, o NGBS conta com a Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos (PAF), que realiza estudos, desde a coleta de materiais georreferenciados (determinadas espécies vegetais), até determinação botânica, investigação genética, perfil químico, dentre outros serviços voltados para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos de origem vegetal. Os estudos são realizados nos três laboratórios que integram a PAF: o de Biologia da Biodiversidade, de Química da Biodiversidade e o de Qualidade Vegetal.

 

Coleção botânica – A Plataforma conta com a primeira Coleção Botânica de Plantas Medicinais da Fiocruz, institucionalizada em 2016, cujo acervo é composto por duas mil exsicatas (amostras científicas de plantas medicinais secas). Trata-se de um importante banco de ervas medicinais com o objetivo de garantir a determinação botânica e a rastreabilidade de espécies vegetais de interesse medicinal, de modo a favorecer o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos.

 

O botânico do NGBS, Marcelo Neto Galvão, analisa as exsicatas da Coleção Botânica de Plantas Medicinais, a primeira da Fiocruz, que, atualmente, é composta por dois mil exemplares (Foto: arquivo)

Além disso, fomenta o uso sustentável da biodiversidade e o desenvolvimento de projetos de Ciência, Tecnologia e Inovação, relacionados a medicamentos de origem vegetal, de acordo com os preceitos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF).

 

Trabalho em rede – Com o objetivo de incrementar ações voltadas para o fortalecimento da PNPMF, o NGBS coordena a rede de conhecimento a partir de Arranjos Produtivos Locais dos biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal). A RedesFito, como é denominada, funciona como uma cooperativa que se estende de norte a sul do Brasil. “Nosso projeto visa à promoção da inovação de medicamentos da biodiversidade, que passa necessariamente pelo desenvolvimento em rede, integrando todos os atores da cadeia, tais como as pessoas que vivem da agricultura, por exemplo, além das empresas, dos institutos de ciência e tecnologia, das universidades, do comércio, dentre outros”, ressalta Villas Bôas.

 

No cenário brasileiro atual, o NGBS se integra em uma proposta de desenvolvimento endógeno na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, fruto do trabalho das RedesFito nestes 11 anos. O reconhecimento resultou em uma participação junto ao Ministério da Saúde na discussão da organização de uma Plataforma para Fitoterápicos. Com o Ministério do Meio Ambiente, o Núcleo participa de um projeto envolvendo cadeias de valor, fitoterápicos e repartição de benefícios.

 

Com participação nesses dois projetos ministeriais, e outros que a área vem desenvolvendo no âmbito das RedesFito, o NGBS dará mais um passo para a proposição de uma política de inovação em medicamentos da biodiversidade, rediscutindo seu marco regulatório. Segundo o coordenador, esta ideia já ganha força das indústrias e das empresas intermediárias e finalísticas. Além disso, recebe apoio, também, daqueles que vislumbram um aumento na repartição de benefícios e sua aplicação em projetos de desenvolvimento com impacto nas populações tradicionais.

Desta forma, o NGBS tem contribuído para o cumprimento da missão institucional, seja na área acadêmica, na prestação de serviços tecnológicos e no trabalho em rede, mas com o objetivo final de fortalecimento da saúde pública.