Projetos de Farmanguinhos/Fiocruz evoluíram, principalmente, no âmbito dos tratamentos pediátricos
Desde a pesquisa até a produção, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) trabalha com projetos inovadores para o tratamento de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). Além de ser um compromisso da instituição com o cidadão brasileiro, esses esforços fazem parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelecem metas para o controle e a eliminação dessas enfermidades.
Tuberculose, malária, esquistossomose e doença de Chagas são apenas algumas das doenças consideradas negligenciadas no contexto da saúde pública, segundo organismos internacionais de saúde, visto que são endêmicas em populações de baixa renda. Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), lançado em janeiro de 2024, foram identificados mais de 580 mil casos novos das DTNs, entre 2016 e 2020, no Brasil. Desses, cerca de 40 mil óbitos foram registrados com causas múltiplas.
Para combater esse cenário, Farmanguinhos utiliza novas tecnologias que possibilitem a ampliação do acesso a medicamentos à parcela da população mais vulnerável. Em 2024, cerca de 52 milhões unidades farmacêuticas foram fornecidas para o tratamento dessas doenças, entre classes de antimaláricos, anti-helmínticos (esquistossomose), antiparasitários (filariose) e tuberculostáticos.
A instituição é, por exemplo, a única fabricante nacional do medicamento utilizado no tratamento de filariose no Brasil, a dietilcarbamazina 50 mg, e da associação antimalárica em dose fixa combinada de artesunato e mefloquina (ASMQ). Este último teve a primeira entrega após mudança no processo produtivo, em 2024, que tornou a fabricação mais eficiente.
Novas tecnologias
Recentemente, Farmanguinhos iniciou o uso de modelagem de simulação computacional para realizar estudos não clínicos em medicamentos pediátricos dispersíveis em água para bebês, crianças e adolescentes. A estratégia utilizada para o desenvolvimento tecnológico de uma nova associação do isoniazida e rifampicina consiste na criação de um modelo de simulação biofarmacêutica baseado em fisiologia, construído a partir de dados históricos de biodisponibilidade da associação em dose fixa combinada iso+rifam e da isoniazida monodroga em adultos e complementado com dados de literatura. A modelagem contribui, principalmente, para verificar a dose correta para cada tipo de público pediátrico, desde os bebês até as crianças em idades pré-escolar e escolar, demonstrando o comportamento dos fármacos em cada organismo.
Outra evolução no tratamento da população pediátrica foi referente ao Arpraziquantel. No âmbito do consórcio internacional, em parceria com a Merck S.A., o Instituto se tornou o primeiro produtor global desta opção terapêutica focada no tratamento da esquistossomose em crianças de idade pré-escolar, entre três meses e seis anos. Dispersível em água, palatável e de tamanho adequado, o medicamento foi desenvolvido para resistir aos desafios de calor e umidade dos países tropicais.
Em 2024, a terapia foi incluída na lista de pré-qualificados da Organização Mundial de Saúde (OMS), após parecer científico favorável da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), e teve sua qualidade reconhecida internacionalmente, possibilitando o fornecimento para regiões onde a doença é altamente endêmica, especialmente a África. A submissão para a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), necessária para o início do tratamento no Brasil, também já foi feita por Farmanguinhos/Fiocruz ainda no ano passado.
Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas – celebrado anualmente no dia 30/1, a data foi criada para chamar a atenção a esse grupo de patologias que afetam cerca de 1/6 da população mundial, principalmente pessoas pobres de países da região tropical, inclusive o Brasil.