Indicado pelo SUS, miltefosina é mais um medicamento de combate à doença tropical negligenciada
O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) realizou nova colaboração para a entrega da miltefosina no dia 27/5. Indicado para o tratamento de leishmaniose tegumentar, o medicamento é adquirido pelo Ministério da Saúde (MS) e reembalado pelo Instituto para facilitar o acompanhamento dos pacientes, além de atender adequação à legislação vigente no Brasil e necessidades do programa de combate à leishmaniose. Ao todo, foram entregues mais de 105 mil unidades farmacêuticas.
Realizado sem custos, o procedimento é uma parceria com o Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF), vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS/MS), para ampliar o acesso a medicamentos voltados para o tratamento de doenças tropicais negligenciadas (DTNs).
“Farmanguinhos já realiza um trabalho muito importante na produção de medicamentos para hepatite C, esquistossomose e tantas outras enfermidades negligenciadas que, normalmente, não são vistas pelas grandes indústrias. Então, essa é uma amostra de nossa colaboração com a população que é mais vulnerável e com baixa visibilidade”, declarou o diretor da unidade, Jorge Mendonça.
Em nota informativa (Nº 13/2020), o MS esclarece que a enfermidade constitui um problema de saúde pública de alta magnitude no Brasil, visto que atinge, principalmente, a população de baixa renda. Quando considerada a raça, o coeficiente de detecção entre indígenas e negros, respectivamente, é 18 e 3,4 vezes maior que o apresentado para a raça/cor branca.
Reembalagem em território nacional
Comercializado pelo nome ‘Impavido’, ele é originalmente adquirido por importação intermediada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Essa é a terceira remessa de reembalagem da miltefosina. Anteriormente, já haviam sido enviadas cerca de 280 mil unidades farmacêuticas, em 2020 e 2023, seguindo este mesmo procedimento. “O Ministério da Saúde entra em contato conosco para o envio do produto, que é direcionado a equipe de produção para o ajuste da embalagem conforme a necessidade”, disse a responsável pela Divisão de Assistência Farmacêutica de Farmanguinhos/Fiocruz, Vanessa Lordello.
O procedimento acontece, principalmente, devido a necessidade de readequação da abordagem terapêutica, seguindo as recomendações das diretrizes nacionais. “No exterior, a apresentação da miltefosina é composta de oito blisters por caixa. Para atender a necessidade do MS, a Produção acondiciona 6 blisters em cartuchos e inclui a bula e o folheto explicativo, ambos impressos pela Flexografia”, explicou a gerente da Produção de Farmanguinhos/Fiocruz, Beatriz Simões. O tratamento passou, então, a ser feito em duas etapas de 14 dias cada, para o melhor acompanhamento dos pacientes.
Anteriormente, o tratamento de leishmaniose tegumentar realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) era feito por meio de medicamentos injetáveis, como o antimoniato de meglumina. Com a incorporação da miltefosina, o cuidado com a enfermidade passou a ser feito por via oral, como uma abordagem menos invasivas e com maior segurança e eficácia.
“Farmanguinhos já possuí um papel estratégico na produção de medicamentos como tuberculose e malária, que são também grandes problemas enfrentados quando falamos de saúde no Brasil. Então, é essencial para nós contar com esse parceiro para a disponibilização de um medicamento de abordagem mais fácil e cômoda para o paciente”, comentou o Coordenador-geral de Assistência Farmacêutica de Medicamentos Estratégicos (DAF/MS), Luiz Henrique Costa.
Após o processo finalizado, Farmanguinhos retorna com o medicamento ao MS com novas embalagens e bulas traduzidas. “Essa é uma entrega que tem acontecido somente uma vez ao ano. Então, tomamos o cuidado para que tudo seja feito da melhor forma possível e adequamos o armazenamento e expedição conforme o combinado com o ministério”, disse a gerente logística de Farmanguinhos, Cristina Guedes.
Leishmaniose tegumentar – doença infecciosa, não contagiosa, que ocorre pela picada da fêmea do Lutzomyia, conhecido como mosquito-palha, infectado com o protozoário do gênero Leishmania. Entre os sintomas, está a ulceração de pele e mucosa.
Somente em 2022, foram registrados mais de 12 mil casos de leishmaniose tegumentar no país, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS). Desses, quase 50% estão localizados no Norte do Brasil. Há época da primeira entrega do medicamento ao Sistema Único de Saúde (SUS), em 2020, eram contabilizados cerca de 16 mil casos.