Como laboratório farmacêutico oficial vinculado ao Ministério da Saúde (MS), o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) tem papel de destaque dentro do desenvolvimento da Política Nacional de Medicamentos e da Política Industrial como centro de tecnologia e produção de medicamentos especializados, entre eles, os antirretrovirais. Atualmente, fornece 10 medicamentos dessa classe – atazanavir 300mg, efavirenz 600mg, lamivudina 150mg, nevirapina 200mg, zidovudina 100mg, dolutegravir 50mg, dolutegravir 50mg + lamivudina 300mg, lamivudina 150mg + zidovudina 300mg, tenofovir 300mg + lamivudina 300mg e o entricitabina 200mg + tenofovir 300mg.
“Somos um produtor público de antirretrovirais no país. Atuamos para ampliar o acesso das pessoas vivendo com HIV/Aids a esses medicamentos. Para o Ministério da Saúde, atuamos na diminuição da dependência por insumos importados pelo país, gerando, inclusive, economia aos cofres públicos, com a redução de custos para a sua aquisição”, ressalta o diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça.
Absorção tecnológica – Com o objetivo de oferecer mais uma alternativa para o tratamento contra o HIV/Aids, Farmanguinhos passou a fornecer uma combinação inédita de dois antirretrovirais, o dolutegravir 50mg + lamivudina 300mg. O regime de dosagem simplificada representa um avanço para o Sistema Único de Saúde (SUS). Esse ano, a previsão solicitada pelo MS é de 10,8 milhões de unidades farmacêuticas (Ufs) e, para 2024, serão fornecidas 30 milhões.
A distribuição do dolutegravir 50 mg é fruto de uma parceria do Instituto com empresas internacionais, firmada em julho de 2020. Desde a primeira entrega (3/2022) até hoje, o total acumulado é de 244.594.680 Ufs.
Ao final da transferência de tecnologia desses medicamentos, toda a sua produção será executada no Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM) de Farmanguinhos.
De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde (Número Especial | dez 2022), desde o início da epidemia de Aids (1980 até junho de 2022), foram identificados 1.088.536 casos no Brasil, com média de 36,4 mil novos casos nos últimos cinco anos. A publicação também ressalta que o acesso ao tratamento com antirretrovirais vem contribuído para a redução da mortalidade no Brasil. De 1980 até 31/12/2021, foram notificados 371.744 óbitos, por causa básica Aids, no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Em 2021, foram registados um total de 11.238 óbitos, com uma taxa de mortalidade padronizada de 4,2 óbitos/100 mil habitantes.
Coinfecções TB-HIV – Principal produtor de tuberculostáticos no país, Farmanguinhos desenvolve e absorve tecnologias de produtos para o tratamento da tuberculose, que são utilizados nas coinfecções TB-HIV, como é o caso da isoniazida (100mg e 300mg). A profilaxia da infecção latente da tuberculose (ILTB) é uma medida preventiva sobretudo em pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA).
Atualmente, para o tratamento de tuberculose, Farmanguinhos fornece ao MS: etionamida 250mg, isoniazida (100mg e 300 mg), isoniazida 100mg + rifampicina 150mg, isoniazida 150mg + rifampicina 300mg e o medicamento 4 em 1 (rifampicina 150mg + etambutol 275mg + isoniazida 75mg + pirazinamida 400mg).
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) – Farmanguinhos ainda fornece outro importante medicamento ao MS: o antirretroviral composto entricitabina 200mg + tenofovir 300mg, usado na Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). Trata-se de um esquema de prevenção que consiste no uso diário do medicamento que funciona como uma “barreira química” contra o vírus HIV.
Inovação e Pesquisa – Farmanguinhos também lidera projetos de desenvolvimento de novos medicamentos ou de melhorias de formulações que já são fornecidas no SUS. Desde 2001, o Laboratório de Síntese de Fármacos (Lasfar/Farmanguinhos) atua no combate ao HIV, por meio da preparação de novas substâncias ativas. Em geral, para a obtenção destes novos compostos, são realizadas modificações estruturais em fármacos já utilizados na terapia antirretroviral, visando obter substâncias mais ativas e com menos eventos adversos.
Atualmente, o laboratório trabalha no desenvolvimento de produtos que sejam capazes de atuar em coinfecções como HIV-TB e HIV-criptococose, bem como na criação de modelos celulares que possam testar as atividades anti-HIV/anti-MTb e antirretroviral/antifúngica de compostos simultaneamente, que estão em avaliação pré-clínica.
“Uma das moléculas promissoras é um análogo da etravirina, duas vezes mais ativa que o fármaco padrão. Além de exibir um melhor perfil de segurança em ensaios celulares, inibindo em quase 94% a atividade da enzima transcriptase reversa (TR), essencial para replicação do vírus. O modo de interação do novo análogo da etravirina com o sítio de ligação na enzima TR, assim como o estudo do perfil farmacocinético, já foram determinados. Agora, esse candidato a fármaco está sendo submetido a ensaios que avaliam seu perfil de resistência viral, bem como sua ação nos reservatórios onde o HIV encontra-se em estado de latência” conta a pesquisadora Mônica Macedo Bastos.
Também estão sendo desenvolvidos modelos celulares de coinfecção HIV-criptococose e HIV-TB. O primeiro em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o segundo, finalizado no The Johns Hopkins Medical School (Estados Unidos). Ambos são realizados por meio de parcerias com grupos de pesquisa (nacional e internacional), de forma multidisciplinar e com alto potencial multiplicador.
No Lasfar, todos os trabalhos contam com o investimento institucional de Farmanguinhos/Fiocruz e também com o financiamento de agências de fomento – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Biodiversidade – Já o Laboratório de Tecnologia para a Biodiversidade em Saúde (TecBio/Farmanguinhos) investiga o comportamento de uma planta medicinal usada popularmente para tratar vários tipos de doenças, algumas graves ou crônicas, entre as quais a Aids. Coordenada pelo pesquisador Antônio Carlos Siani, com colaboração do grupo de Virologia Molecular da UFRJ – liderado pelo pesquisador Amílcar Tanuri, a pesquisa avalia os componentes ativos contidos no látex dessa planta como base conceitual para desenvolver um fitoterápico.
“O látex dessa planta contém substâncias (Agentes Reversores de Latência) que despertam o vírus latente nos reservatórios celulares de pacientes infectados que são assintomáticos, devolvendo-os para a corrente sanguínea, onde estarão novamente suscetíveis à ação dos antirretrovirais da terapia convencional. A proposta do estudo é combinar a ação desse fitoterápico com os antirretrovirais existentes, para atingir a cura da Aids, através da eliminação total do vírus no organismo”, destaca Antonio Siani.
Segundo o pesquisador, o projeto está avançado na fase pré-clínica, com os resultados já obtidos nos seus estágios químicos e farmacológicos, incluindo testes de toxicologia efetuados sob Boas Práticas de laboratório, em locais credenciados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O próximo passo é aprofundar os testes toxicológicos e a conclusão, dessas etapas, de modo positivo, o que permitirá iniciar futuros estudos clínicos.
Desta forma, neste Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, Farmanguinhos reafirma seu protagonismo no fornecimento dessa categoria de medicamentos ao SUS.