O Instituto produz nove medicamentos, desenvolve novas formulações e pesquisa soluções farmacêuticas mais modernas a fim de oferecer tratamentos mais eficazes aos pacientes
Nesta segunda-feira (30/01) é celebrado o Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas. A data foi criada para chamar a atenção a esse grupo de patologias que afetam cerca de 1/6 da população mundial, principalmente pessoas pobres de países da região tropical, inclusive o Brasil. Para mudar esta realidade, Farmanguinhos/Fiocruz produz medicamentos especificamente para essas enfermidades, desenvolve novas formulações e pesquisa soluções farmacêuticas mais modernas a fim de oferecer tratamentos mais eficazes aos pacientes.
As Doenças Negligenciadas estão relacionadas à pobreza, e são responsáveis, anualmente, por milhões de mortes no mundo. São assim denominadas por não despertarem interesse das indústrias farmacêuticas, pois não geram retorno lucrativo, o que acentua a condição de vulnerabilidade das populações atingidas. Dentre as essas patologias estão tuberculose, malária, esquistossomose, doença de Chagas, hanseníase e outras que também exigem atenção especial.
O diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça, explica que a instituição trabalha permanentemente para o enfrentamento dessas doenças, a partir da produção de medicamentos, pesquisa e desenvolvimento de novas formulações farmacêuticas. “As doenças consideradas negligenciadas ainda são um grave problema de saúde pública em nosso país. Por esta razão, é importante fortalecer os Laboratórios Farmacêuticos Oficiais, como é o nosso caso, para que possamos atuar nessa lacuna deixada pelas indústrias farmacêuticas privadas. Farmanguinhos, assim como os demais laboratórios públicos, tem um compromisso com a saúde da população, não com o lucro”, frisa o diretor.
Mendonça destaca ainda iniciativas institucionais voltadas para o combate de algumas dessas enfermidades, em especial, as consideradas endêmicas no país, tais como tuberculose, malária, esquistossomose, filariose e doença de Chagas. “Nosso objetivo é ampliar e diversificar nosso portfólio para que possamos oferecer tratamentos mais adequados para cada uma dessas enfermidades classificadas no grupo das Doenças Negligenciadas. Para isso, estamos investindo em nosso parque fabril, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento. Essas ações reiteram nosso compromisso com a vida e com a saúde pública brasileira”, assinala.
Portfólio de medicamentos – Neste sentido, o portfólio de Farmanguinhos é composto por nove medicamentos para doenças negligenciadas. Desses, quatro são para tuberculose: etionamida, isoniazida, isoniazida+rifampicina, e o 4 em 1, assim denominado por reunir em um único comprimido quatro princípios ativos (rifampicina+isoniazida+pirazinamida+etambutol). A instituição dedicará uma nova linha produtiva exclusivamente para tuberculostáticos, com área total de 750 m2, e capacidade para produzir até 420 milhões de unidades farmacêuticas por ano. A previsão é de que seja inaugurada no segundo semestre de 2023.
Para malária, o Instituto fornece três medicamentos: primaquina, cloroquina e a Dose Fixa Combinada artesunato+mefloquina, medicamento inovador, capaz de curar em até três dias. O portfólio conta ainda com o praziquantel (para esquistossomose) e dietilcarbamazina (para filariose).
Novas formulações – A coordenadora de Desenvolvimento Tecnológico de Farmanguinhos, Alessandra Esteves, explica que a unidade possui 14 projetos de desenvolvimento de novos medicamentos, e de melhorias de formulações já existentes, que já são fornecidas no Sistema Único de Saúde (SUS). “Um deles é o benznidazol, indicado para doença de Chagas. Trata-se de um medicamento inovador em termos de fabricação, pois prevê a melhoria do processo produtivo do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) que está sendo realizada pelos próprios pesquisadores do Laboratório de Síntese de Fármacos de Farmanguinhos”, destaca.
Neste sentido, a lista de projetos de novos produtos é composta ainda pelos tuberculostáticos rifapentina, rifapentina+isoniazida e isoniazida+rifampicina meia dose. Além disso, está em desenvolvimento o anti-helmíntico praziquantel pediátrico, utilizado no tratamento de esquistossomose.
Pesquisa de novos fármacos – Atualmente, o Instituto conta com linhas de pesquisa para cinco doenças negligenciadas: Chagas, leishmaniose, malária, tuberculose e hanseníase. Contudo, a área de pesquisa vai além, empenhando-se em investigações que incluem a as doenças fúngicas e as arboviroses. O objetivo é chegar a novos alvos terapêuticos, ou melhorar os tratamentos já existentes.
As equipes de pesquisa desenvolveram candidatos a fármacos sintéticos para a doença de Chagas e a leishmaniose, que se mostraram centenas de vezes mais potentes do que os disponíveis atualmente, além de apresentarem baixa toxicidade. A instituição investiga ainda novas substâncias para infecções fúngicas sistêmicas, e tem obtido resultados positivos para centenas de novas substâncias promissoras contra tuberculose e malária, algumas das quais estão em etapas avançadas de desenvolvimento pré-clínico, ou seja, em animais.