Farmanguinhos debate os desafios e as perspectivas desse novo segmento tecnológico na área de fármacos
Na manhã desta terça-feira (10/3), O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) promoveu a palestra Impressão 3D de medicamentos: desafios e perspectivas, proferida por Caio Paranhos, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A atividade abre oficialmente o ciclo 2020 dos Seminários do Programa de Pós-graduação Translacional em Fármacos e Medicamentos da unidade.
Neste sentido, alunos, pesquisadores (de Far e de outras unidades da Fiocruz) e colaboradores de outras instituições públicas e empresas farmacêuticas privadas lotaram o auditório da Vice-diretoria de Educação, Pesquisa e Inovação (VDEPI), a fim de se aprofundar mais neste novo segmento tecnológico na área de fármacos e medicamentos. Durante o encontro, o público presente pôde conferir alguns produtos fabricados pela impressora 3D e esclarecer dúvidas sobre essa tecnologia.
De acordo com o professor, um dos benefícios dessa nova tecnologia é a liberação diferenciada dos fármacos no organismo do paciente. “Pode-se abrir um campo de liberação controlada de diferentes fármacos, ou formas farmacêuticas únicas, por exemplo”, ressalta. Ainda segundo Paranhos, dentre as propostas está a democratização dos tratamentos com foco na medicina personalizada. Em outras palavras, devido a suas características, a impressão 3D pode ser voltada para atender as necessidades de grupos especiais de pacientes, não somente para fabricação em escala industrial.
Para o palestrante, dentre os desafios, o principal é a falta de regulamentação, o que se tornou um entrave para avançar nos estudos. “Ainda estamos longe da escala industrial, porque, primeiramente, deve-se atender a regulamentação. Mas as agências reguladoras ainda não dispõem de protocolos para esse tipo de equipamento. Por esta razão, só podemos trabalhar com protótipos”, observa o professor.
Trabalhamos com o conceito de medicina personalizada, portanto, a ideia é disponibilizar medicamentos de acordo com o perfil de cada grupo de pacientes – argumenta Caio Paranhos.
Enquanto as leis não caminham no mesmo ritmo da tecnologia, que avança vertiginosamente, um grupo de pessoas aguarda os frutos da impressora 3D de medicamentos. Este público-alvo é composto por pacientes pediátricos e geriátricos assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mais especificamente indivíduos afetados por doenças negligenciadas. Esse tipo de tecnologia pode ser bastante útil para produzir medicamentos com mais de um fármaco. Um exemplo é o tuberculostático 4 x 1 de Farmanguinhos, que reúne quatro princípios ativos em um único comprimido.
Atuação da Fiocruz – A falta de uma regulamentação retrata um pouco o cenário: a tecnologia 3D para impressão de medicamentos ainda é uma área incipiente em todo o mundo, mas vem avançando significativamente. A Fiocruz, por exemplo, conta com uma plataforma exclusivamente para estudos com essa tecnologia. Trata-se da Plataforma de Impressão 3D, cujo objetivo é servir à comunidade científica da Fundação em suas necessidades de prototipagem, provas de conceito, componentes sob medida e modelos anatômicos que possam utilizar esse tipo de tecnologia.
Farmanguinhos possui um grupo de pesquisa que desenvolve estudos exclusivamente com impressão 3D de medicamentos. Trata-se do Laboratório de Farmacotécnica Experimental, que vem recebendo reconhecimento junto à comunidade científica, inclusive sendo um dos vencedores do Programa Inova Labs da Fiocruz.
Sobre o palestrante – Caio Paranhos é Engenheiro de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com ênfase em Polímeros. É Doutor em Ciência e Tecnologia de Polímeros pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com pós-doutorado pela UFSCar. É Professor Associado do Departamento de Química da UFSCar e também é pesquisador visitante do Laboratório de Farmacotécnica Experimental de Farmanguinhos.