O jeito tímido e o sorriso meigo não deixam transparecer a determinação e as batalhas que a engenheira química e de segurança do trabalho, Erica Duarte, enfrentou para chegar até aqui. Com muita motivação para adquirir conhecimento e aceitar novos desafios, a colaboradora é responsável pela Estação de Tratamento de Efluentes no CTM, esposa do Vinícius, mãe do Miguel, estudante de Contabilidade e está iniciando uma MBA em Gestão Integrada de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde.
Desde criança, Erica gostava de matemática, física e química, e sabia que seria do ramo de exatas. Ao passar para Engenharia Civil na Universidade Federal Fluminense (UFF) e para Engenharia Química para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), optou pela química e teve a experiência e o amadurecimento de morar sozinha. Como o curso era integral, a aluna focou nos estudos e, já no terceiro período, passou em um processo seletivo para estágio na Usina Termelétrica Santa Cruz, pertencente à Furnas Centrais Elétricas. Por dois anos, adquiriu experiência no laboratório de análises de água e efluente, que na época era credenciado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
O segundo estágio foi na empresa Cosan, na área de controle interno. Nesta oportunidade, Erica realizava auditorias internas, na Fábrica de Lubrificantes e na Matriz, e fazia a consolidação das informações para os indicadores de performance. Ela ainda se destacou por ter sido a vencedora em uma campanha interna com a melhor ideia, que contribuía para a redução de custos. Posteriormente, ela foi transferida para a Raízen e para a área marketing, já que foi criada uma joint venture entre a Cosan e a Shell, formando a Raízen, e todo o setor que ela atuava mudou-se para São Paulo e ela como estagiária não poderia acompanhar esta mudança. Neste novo setor, a colaboradora teve experiência com desenvolvimento de projetos de gestão, treinamento, gestão de equipes de venda e desenvolvimento de projetos na área de aviação executiva.
Formou-se em 2011, pela UFRRJ, em Engenharia química e o primeiro emprego foi na empresa Nova Gramacho Energia Ambiental S/A, que na época tinha a concessão pelo Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho. Iniciou na área administrativa, realizando monitoramento das licenças, verificação de conformidades de implantação de projetos com requisitos ambientais, acompanhamento técnico da implantação de projeto da planta de purificação do Biogás e, posteriormente, foi promovida para ser a responsável pela Estação de Tratamento de Chorume, que na época era a maior da América Latina, gerindo uma equipe composta por oito funcionários.
Ingressou em Farmanguinhos em 2014 como responsável pela Estação de Tratamento de Efluentes, do Centro de Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental (CSTGA) e também foi Key User do módulo de monitoramento ambiental com emissão de laudos e inspeção de equipamentos do Sistema ERP SAP. Além da experiência profissional, Erica ainda participou de dois cursos, voltados para capacitação em ETE, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e no Conselho Regional de Química.
Na estação, Erica e a equipe de operadores acompanham as características do efluente, verificando se há uma carga diferente através da análise que o Núcleo de Tecnologia Ambiental (NTA) realiza ou até mesmo com a verificação visual. “Já aconteceu de recebermos uma carga diferente na ETE que resultou em muita espuma na nossa Estação, então precisamos ir nas áreas (produção, restaurante, manutenção, etc), para verificar se alguém despejou algum produto diferente na ETE através da troca de um detergente, por exemplo”, contou a engenheira.
Erica destacou alguns feitos e momentos importantes, como a criação e elaboração de um piloto, que é de uma mini ETE, feita com o colaborador Guaraci Nascimento, através de bombonas, bombinhas de aquário e outros materiais, para verificar os testes de impacto na ETE. A equipe já levou o piloto para explicar o trabalho realizado internamente em alguns eventos externos, como o Fiocruz Saudável e uma exposição no evento Green Rio, na Marina da Glória. Hoje em dia, o piloto faz parte do processo de testes para verificação da compatibilidade de uma nova PDP com a ETE do CTM, através de experimentos com o efluente no piloto e realização de análises feitas pelo NTA. Foi criado também um projeto de reuso da água da estação para que possa ser utilizado para irrigação da vegetação e limpeza dos pátios do CTM, gerando economia para a instituição. Erica lembra que todos esses projetos só foram possíveis graças ao incentivo e apoio de sua chefia.
A conscientização, a admiração e o respeito pelo meio ambiente só cresceram com o tempo e as atitudes sustentáveis vão sendo implantadas em casa com novos hábitos, como o tempo de uso da água, a implantação do reuso da água de chuva na residência dos pais e a educação de responsabilidade ambiental, que é transmitida ao filho Miguel, de quatro anos.
Miguel é fruto de um relacionamento de 15 anos com o marido Vinícius, que acompanhou toda a trajetória profissional da Erica. “Ele é muito companheiro e incentivador. Não teria conseguido chegar até aqui sem o apoio e a contribuição dele, que praticamente se “formou” junto comigo. Agora, acabei decidindo fazer Contabilidade por hobby, mas também para auxiliá-lo com a parte contábil na empresa de tecnologia”, contou.
Nos poucos momentos livres, Erica se divide entre as funções de esposa, mãe, amiga e estudante. Senta no chão, desenha, brinca de dominó, quebra-cabeças e com o brinquedo queridinho do Miguel, o beyblade. Após os afazeres e a diversão, enquanto Miguel dorme o sono sereno, Erica corre para o escritório, estuda e continua investindo no seu crescimento. O quadro na parede do escritório, com a frase emblemática de Steve Jobs, reforça o foco e a determinação: “A cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro, que deixa de existir”.
“Quero sempre melhorar e crescer. Perdi amigos para o tráfico, fazia faxina em casa com o meu irmão, para que a minha mãe não ficasse sobrecarregada e via o quanto ela batalhava e pensava que queria crescer trabalhando como ela. Isso me fez dar valor às coisas e querer dar o melhor para o meu filho. Hoje em dia eu vejo o que podemos conseguir com o conhecimento e isso ninguém tirada gente”, afirmou Erica.
Para ela, os melhores momentos são ao lado da família no shopping, na casa dos pais em Saquarema e nas viagens que fazem com familiares e amigos. As inesquecíveis foram na Disney, Gramado, Campos de Jordão e nas três vezes que estiveram no Beto Carrero.
Entre momentos felizes e outros mais difíceis, como a perda dos sogros, a garra da Erica e a união com familiares e amigos, principalmente os de Farmanguinhos, incluindo a sua chefia, que a fizeram ser forte e vencer cada obstáculo. Com a voz doce, o brilho nos olhos e um jeito sonhador, mas sempre com maturidade e ponderamento, Erica lembra o quanto é grata à família, às suas amizades e à sua fé, por conseguir construir a sua trajetória até os dias de hoje.