Aula inaugural do Mestrado Profissional em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento na Indústria Farmacêutica de Farmanguinhos sugere mudança do modelo de negócio

 

 

 

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) é um laboratório farmacêutico singular. A unidade desenvolve pesquisa básica, cobre todas as etapas da cadeia produtiva, passando por desenvolvimento e fabricação do medicamento. Além disso, oferece, dentre outros cursos, o Mestrado Profissional em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento na Indústria Farmacêutica, cuja conferência de abertura deste ano foi realizada na última quinta (9/3), no auditório da Diretoria de Administração do Campus (Dirac), em Manguinhos.

 

Marcos Cavalcanti abordou a necessidade de se trabalhar em rede

Segundo a vice-diretora de Ensino, Pesquisa e Invocação (VDEPI), Erika Martins de Carvalho, esta é a 7ª turma do Mestrado Profissional da unidade, curso que obteve conceito 4 pela Capes numa escala que vai até cinco. “Nosso Mestrado Profissional é altamente conceituado entre os laboratórios oficiais. Como resultado temos um índice elevado de estudantes que vêm de laboratórios oficiais e também de outros privados”, frisou Erika.

 

Ela disse ainda que a universidade é essencial, mas não prepara o profissional para a indústria. “Essa é uma área cuja tecnologia está em constante evolução. Dessa forma, com o Mestrado Profissional, Farmanguinhos cumpre um papel fundamental de manter seu corpo técnico especializado para este nicho específico”, enfatizou.

 

Primeiro Doutorado – Essa característica singular de Farmanguinhos, e o alto rendimento do curso, podem tornar a unidade a primeira instituição deste segmento no Brasil a possuir um Doutorado. De acordo com Erika Carvalho, a proposta veio da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz. “A própria Capes olha Farmanguinhos de maneira muito especial e já deixou claro que gostaria que Far seja o carro-chefe desse projeto, não somente do Doutorado, como também do primeiro Programa de Pós-graduação Profissional do país”, explicou a vice-diretora. Está agendada para a semana que vem uma reunião com a Vice-Presidência para discutir o assunto. Antes, Erika disse que se reunirá com os pesquisadores para conversar sobre essa possibilidade e ouvir a opinião deles.

 

O coordenador do Mestrado Profissional, Jorge Magalhães, avaliou as negociações como extremamente promissoras. “Só vêm corroborar nosso esforço em primar pelo ensino de qualidade, com isonomia nos processos e na qualidade diferenciada. Esses foram os pontos em destaque que nos impulsionam a continuar na luta. Podemos dizer que hoje a expectativa disso se tornar realidade é muito mais forte do que um ano atrás, quando a probabilidade era zero. Agora, cumprimos 70% das exigências no processo”, observou Magalhães.

Erika Carvalho, Marcos Cavalcanti e Jorge Magalhães

Ele disse ainda que, apesar do que se conquistou até agora, o pedido pode ser negado. “Temos de estar prontos para isto também. Mas, se isto ocorrer, a experiência que adquirimos para uma próxima tentativa é, sem dúvida, inegável e fabulosa. Por outro lado, é imensa e gratificante para toda a comunidade de Farmanguinhos a expectativa de sermos o programa pioneiro no Brasil na área de farmácia com este viés de pesquisa translacional na Indústria Farmacêutica (da pesquisa em bancada à bancada da farmácia do consumidor)”, assinalou.

 

No centro da agenda institucional – A mesa de abertura foi composta pelo coordenador do Mestrado, Jorge Lima de Magalhães, pela coordenadora de Pós-graduação da Fiocruz, Crisina Guilham, pela vice de Pesquisa, Erika Carvalho, e por Hayne Felipe da Silva. O diretor de Far lembrou o compromisso que sempre teve com o Ensino. “É um orgulho, no primeiro ano de minha gestão, ter colocado o Ensino como uma questão central em Farmanguinhos”, frisou. Ele reforçou ainda a importância do Mestrado Profissional na área farmacêutica, especialmente no Brasil, país onde a história dessa indústria é marcada por momentos de instabilidade. “É preciso ajudar a fortalecer a indústria farmacêutica, porque esse é também um dos objetivos do curso, principalmente no atual contexto político do país”, disse o diretor referindo-se à falta de penicilina no território nacional.

 

Com tantos desafios pela frente, Hayne não deixou de incentivar os futuros mestres. “Eu acredito no potencial dos nossos estudantes”. E deu a dica: “o grande saber é o saber fazer a pergunta certa. No final de dois anos, vocês olharão para trás e saberão que tudo valeu a pena”, assinalou o diretor parafraseando Fernando Pessoa.

 

Inovação colaborativa – Com o tema Ativos intangíveis: o desafio da gestão do conhecimento em tempos de Big Data, a aula magna foi apresentada pelo especialista Marcos Calvalcanti, professor de Engenharia da Produção e pesquisador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não há saberes grandes ou pequenos. Há saberes diferentes. Por isso a conferência do Marcos Cavalcanti será bem oportuna”, frisou o coordenador do Mestrado, Jorge Lima de Magalhães.

A mesa de abertura foi composta pelo coordenador do Mestrado, Jorge Lima, pela coordenadora de Pós-graduação da Fiocruz, Crisina Guilham, pela vice de Pesquisa, Erika Carvalho e por Hayne Felipe da Silva

Segundo Cavalcanti, o maior desafio atualmente é entender o mundo no qual vivemos. “Não vivemos mais numa sociedade industrial. A indústria não é mais a responsável pelo desenvolvimento do país. Hoje, o principal agente de riqueza é o conhecimento, que representa 55% da riqueza mundial”, destacou Cavalcanti. “O preço de um aparelho celular, por exemplo, é orientado pela tecnologia que está dentro dele, não pelo objeto físico”, concluiu.

 

O público compareceu em bom número ao auditório no campus da Fiocruz, na Zona Norte do Rio de Janeiro

A palestra foi conduzida no sentido de provocar o público, chamando a atenção para uma nova realidade: o gerenciamento do conhecimento. “Se quisermos melhorar a produtividade na nossa indústria farmacêutica, até teremos que gerenciar bem o estoque e comprar matéria-prima barata, mas o principal fator é ter que saber gerenciar conhecimento, isso é o que vai possibilitar darmos o salto de qualidade”, avaliou.

 

O palestrante usou uma exuberância de exemplos para ilustrar a hipótese dele, de que o modelo de negócio no serviço público é obsoleto. Mesmo na iniciativa privada brasileira, há casos de resistência de mudança de visão, uma lógica que coloca o país na contramão do desenvolvimento.

 

O palestrante apresentou ainda exemplos de inovações brasileiras que, devido a burocracias na legislação nacional, nunca se tornaram um bem disponível para a população. Cavalcanti apontou que o novo modelo de negócio é ação colaborativa, isto é, o trabalho em rede. Neste sentido, ele adverte: “é preciso repensar a patente na era da inovação aberta e colaborativa”.

 

 

Fotos: Edson Silva